A guerra entre facções criminosas gerou novas formas de violência e medo em Salvador, assim como no restante do Brasil. Um dos efeitos inesperados dessa disputa afetou a comunidade surda, que utiliza a Libras – a Língua Brasileira de Sinais – para se comunicar. Gestos simples, usados diariamente pelo público, são confundidos com sinais das associações rivais, o que coloca quem faz essas sinalizações em risco de represálias.
Membros da comunidade surda relatam que o temor não é exagero. Segundo um entrevistado ao Portal MASSA! por meio de uma intérprete, até mesmo uma conversa corriqueira pode se tornar um risco. “A Libras é um meio oficial de comunicação, e saber que a gente corre perigo apenas por sinalizar é assustador. Infelizmente, já houve casos de mortes ligadas a essa confusão”, desabafa.
O medo tem feito com que surdos evitem certos sinais, principalmente em áreas dominadas pelo crime. O problema está no fato de que alguns gestos comuns da Libras são parecidos com os sinais usados por facções criminosas. Um exemplo é o famoso “I Love You”, conhecido mundialmente como expressão de afeto, mas que em alguns contextos tem sido interpretado como um código de facções.
Outros sinais, como o de “paz e amor”, hang loose, número três e até “joinha”, também já causaram confusões. Para evitar mal-entendidos, muitos surdos recorrem à datilologia – que é a soletração de palavras com os dedos – como alternativa mais segura: “Em locais perigosos, muitos surdos têm evitado certos sinais e preferido soletrar palavras para evitar confusão”.
Aperto de mente
Um caso que chocou a comunidade foi o das irmãs Rayane e Rithiele Alves, ocorrido em setembro de 2024, em Porto Esperidião, no Mato Grosso. As duas postaram uma foto em uma festa, com o gesto de “I Love You”, comum entre pessoas com deficiência auditiva. Na ocasião, elas acabaram brutalmente assassinadas.