Por Hieros Vasconcelos
O Rio Vermelho sempre foi um ícone de boemia, história e tradição. Suas ruas arborizadas, o aroma do acarajé e a brisa do mar formam um cenário que encanta seus frequentadores e que já atraiu para morar na região diversas personalidades, como os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai. No entanto, nos últimos anos, a crescente violência tem gerado apreensão entre os soteropolitanos, que veem o bairro, antes tranquilo, se transformar em um reflexo da insegurança que afeta outras partes da cidade.
Na madrugada de ontem, um homem ainda não identificado foi brutalmente assassinado com golpes de faca nas proximidades da Paróquia de Sant’Ana, um ponto central do Rio Vermelho. O crime, ocorrido a poucos metros de bares e restaurantes famosos, ilustra a mudança que o bairro vem sofrendo: de um local acolhedor e pacífico para um cenário que, infelizmente, se repete nas manchetes policiais.
Segundo a Polícia Militar, o homicídio ocorreu por volta das 3h30 da manhã. A vítima foi atingida por diversos golpes e não resistiu aos ferimentos. A motivação do crime ainda é desconhecida, assim como a identidade do suspeito. A investigação segue sob responsabilidade da 7ª Delegacia Territorial (DT), localizada no próprio bairro.
Outro episódio recente gerou grande comoção: em 16 de setembro, o estudante Diogo de Souza Andrade, 35 anos, morador da Austrália, foi encontrado ferido e morreu horas depois. A polícia apura se ele foi atropelado após sofrer uma agressão física. O corpo foi identificado por familiares no Instituto Médico Legal (IML).
Na madrugada de 5 de abril, um crime ainda mais bárbaro reforçou o clima de insegurança: um homem foi executado com cerca de 50 tiros — a maioria na cabeça — na Rua Rodrigo Argollo. Segundo testemunhas, os disparos foram tão intensos que cápsulas de munição chegaram a ser encontradas dentro de residências próximas. A cena causou pânico entre os vizinhos e a identificação da vítima foi dificultada pelo estado do corpo.
Além dos assassinatos, uma pichação com a sigla “CV”, em referência ao Comando Vermelho, foi avistada, ontem, em uma estrutura metálica próxima ao Largo da Dinha, ponto turístico e símbolo cultural do bairro. A polícia acredita que se trata de uma tentativa da facção de demarcar território, já que atua em regiões vizinhas como o Nordeste de Amaralina.
Diante da situação, moradores e frequentadores do Rio Vermelho clamam por medidas urgentes de segurança. Ambos ainda alimentam a esperança de que o bairro recupere sua essência de alegria e tranquilidade.
“Esse bairro era um refúgio, um lugar alegre, cheio de vida. Hoje, a gente tem medo de sair à noite a pé, mas o pior é que as coisas têm acontecido nos lugares mais movimentados. Mas pedimos, imploramos, que essa situação seja revertida”, conta um morador antigo, que prefere não se identificar.
O desânimo também é compartilhado entre os comerciantes locais. “A gente fica muito preocupado de que o movimento comece a despencar. São muitos assaltos, às vezes furtos nas mesas. Isso gera muito conflito e desgaste na relação entre cliente e comerciante. Nem mesmo a viatura que fica no Largo da Dinha consegue afastar os criminosos”, lamenta o dono de um pequeno bar na região.
Cultura – Apesar da violência crescente, o Rio Vermelho continua sendo palco de celebrações tradicionais. A Festa de Iemanjá, por exemplo, é um dos maiores eventos religiosos de Salvador, reunindo milhares de fiéis e turistas que fazem oferendas à rainha do mar. Essa celebração une fé e tradição em uma das manifestações mais expressivas da cidade.
Outro evento significativo é o Desfile dos Palhaços do Rio Vermelho, realizado no Carnaval — uma tradição que celebra a arte circense e a alegria popular. Além disso, o bairro já abrigou o antigo Teatro Maria Bethânia, inaugurado na década de 1960, símbolo da efervescência artística de Salvador, onde se apresentaram grandes nomes da música e do teatro brasileiros.
Casos de violência
Recentemente, episódios de violência se intensificaram, causando grande preocupação. Em setembro de 2024, um tiroteio entre a Guarda Civil Municipal e suspeitos de roubo gerou pânico entre os frequentadores do bairro.
O confronto aconteceu entre o Largo da Mariquita e a Vila Caramuru, áreas que atraem um grande número de turistas e moradores. Durante a operação, um dos suspeitos foi preso e outro capturado horas depois em Amaralina. No mesmo dia, dois homens foram envolvidos em uma troca de tiros na Vila Caramuru, também suspeitos de participar de roubos na região.
Além disso, em 28 de agosto de 2024, uma perseguição policial na Rua Belmonte resultou em um tiroteio, onde dois homens, que estavam em um veículo roubado, foram alvejados pela polícia. Um dos suspeitos foi baleado durante a troca de tiros e encaminhado ao Hospital Geral do Estado, enquanto o outro foi preso no local. Esse episódio reflete a crescente violência que afeta a tranquilidade da região.
Em outra ocorrência, também em setembro de 2024, pichações com a sigla “CV”, referindo-se ao Comando Vermelho, foram encontradas em muros próximos ao Largo da Dinha, importante ponto turístico do bairro. A polícia acredita que a ação tenha sido uma tentativa de demarcação territorial da facção, que já atua em bairros vizinhos como o Nordeste de Amaralina.






